Aos 82 anos, dona Nelsa Trombino é homenageada no documentário “A dona do tacho”
A cozinha mineira há tempos vem ganhando destaque no cenário nacional, mas não somente. Dona Nelsa Trombino, a fundadora do restaurante Xapuri, frequentou eventos e festivais fora do país, sempre preocupada em defender e divulgar o jeito tipicamente mineiro nos modos de comer. Ela é uma das responsáveis pela comida de Minas Gerais continuar frequentando o imaginário coletivo e as disputadas vitrines da gastronomia nacional. Atualmente com 82 anos, finalmente ela recebe merecida homenagem com o documentário ‘A dona do tacho’, com pré-estreia no domingo (16). O filme integra o Matula, um festival de cinema inteiramente dedicado à comida.
Tem sido uma linda estrada a de dona Nelsa, com reconhecimentos vindos de toda parte. Enquanto seu restaurante na Pampulha, com mais de 30 anos de vida, se consolidou como verdadeiro ponto turístico na capital mineira, no meio gastronômico profissional os principais chefs e cozinheiros, como Alex Atala, Ivo Faria e Leo Paixão, confirmam dona Nelsa como uma referência.
Ela foi comendo pelas beiradas. Manter a tradição da culinária mineira em fogo alto foi seu principal feito, especialmente num restaurante grande, disputado e com uma equipe grande de funcionários. “Minha mão chegava a sangrar de tanto fazer doce”, relembra a cozinheira. Mas ela não abriu mão do modo artesanal e das receitas típicas, como o indispensável frango com quiabo e os doces que fazem salivar.
Fazer com que as novas gerações preservem as tradições é uma de suas preocupações. “Agora tudo é com creme de leite e flambado na frigideira”, alfineta dona Nelsa. É o jeito dela em evitar que modismos ou tendências passageiras apaguem uma tradição mineira de décadas. Mas águas passageiras nunca fizeram a cabeça dela. Ainda menina, na cidade paulista de Cubatão, começou a frequentar a cozinha de sua família, formada por imigrantes italianos. Do lado do fogão a lenha ela jamais saiu.
A caçula de nove filhos levou a sério a atividade, que acabou se tornando seu ofício de vida. Na vida adulta, mudou-se para Minas Gerais após o casamento. Naquela época nem imaginava que décadas depois receberia o título de cidadã honorária do Estado, dado pela Assembleia Legislativa em 2017.
O filme conta essa dedicação espartana de Nelsa Trombino. A direção é de Marcelo Wanderley, um produtor cultural do meio gastronômico que sempre se encantou com a força da presença da cozinheira. “Na minha convivência com a família Trombino, percebi a energia dessa personalidade de dona Nelsa”, diz. Em uma conversa com o jornalista Rafael Rocha, jornalista gastronômico que tinha o mesmo interesse em contar essa história, veio a fagulha definitiva. “A relevância de dona Nelsa Trombino ultrapassa os limites de um restaurante. Seu legado inspira cozinheiros e cozinheiras Brasil afora”, opina Rafael, que assinou o roteiro do documentário.